sábado, 29 de outubro de 2016

Inspiração: benção ou maldição?




Está na hora de falar sobre a "musa" dos escritores. Da mais aclamada, da mais respeitada, da mais intimidadora, a que todos esperam durante as horas mais prováveis do dia, mas que ousa aparecer somente nas horas inoportunas. Estou falando da exaltada Senhora Inspiração.
Quando e como ela ocorre? Por quanto tempo fica? E, afinal, o que quer de nós? Todas essas perguntas e muito mais serão respondidas aqui agora. Se acomodem porque os conceitos são muitos e pode variar de escritor para escritor. Mas vamos desvendar os segredos da verdadeira inspiração.
Para começar, uma ilustração:
Você se acorda em mais uma manhã para mais um dia cheio de ocupações: trabalho/escola, alguma programação especial com os amigos ou namorado(a) ou simplesmente passar o dia resolvendo problemas em casa. Seria mais um dia de rotinas cansativas se você não tivesse recebido aquela correspondência. Não tinha assinatura, era apenas uma carta que lhe dizia que você havia ganhado uma viagem com tudo pago para uma ilha paradisíaca e que sua duração era de tempo indeterminado.
Caramba! Você mal acredita, parece até pegadinha de uma pessoa com muito mal gosto, mas a documentação em anexo dá um ar de seriedade a tudo. Minutos depois uma mulher bate na porta da sua casa e diz que será sua guia, que as passagens do avião estão nas suas mãos e que precisa apenas da sua decisão: vai ou não vai?
Se for, imagine só quantas boas poderá desfrutar, quanta paz terá,  o quão feliz ficará... Mas, se não for, garantirá sua estabilidade de sempre, afinal, sua vida sempre foi a mesma, certo?
Vamos considerar que a proposta foi aceita, você rapidamente arruma o que julga essencial para a viagem e vai sem medo de arrependimentos.
O começo já se torna empolgante, sua guia é uma ótima companheira, você se sente a melhor pessoa do mundo, alcançou o auge de felicidade.
Chega ao seu destino e aproveita cada momento. Tudo está maravilhoso. Até sua guia, depois de umas duas semanas, lhe dar a infeliz notícia de que vocês precisam voltar para a casa.
A viagem acabou. Vocês regressam.
No começo você fica chateado(a), não queria sair daquela bela ilha, ela te fazia tão bem... Mas só resta o contentamento, quem sabe em outra manhã você não acorda e mais uma vez se depara com a ótima surpresa?
A inspiração é como essa viagem: inesperada, oportunidade única e sem previsões. Não posso negar que a inspiração na hora de escrever é importante, mas não devemos nos deter a ela, sermos escravos de algo que claramente nos deixará na mão em algum momento. Porque nós sabemos que, da mesma maneira que ela nos atinge de repente, irá sem avisar também.
O melhor é saber administrar a Senhora Inspiração e não deixar que a mesma que nos ajuda a alavancar no novo livro nos passe a perna e nos abandone caídos e desesperados.
A queda mais feia com certeza é a dos escritores iniciantes, por isso que um dos modos de um escritor perceber sua evolução é avaliar o tamanho do impacto que um bloqueio criativo tem na sua carreira e até na sua vida.
Vamos colocar os tópicos iniciais sobre a "musa" Inspiração:
1-Quando e como ocorre?
R= Com certeza no momento que menos se espera. Pode ser de madrugada, quando se está tentando dormir, no meio de uma reunião de trabalho, durante uma prova na escola, no ônibus, no elevador, no banheiro e etc. A inspiração vai chegar, tenha certeza, só não avisará antes e vai pegar de surpresa.
Não é necessariamente preciso um estímulo exterior para que ela aconteça, mas há quem se sinta mais inspirado quando assiste um filme, novela, lê um livro ou escuta uma conversa ou música. Eu recebo umas inspirações meio sobrenaturais quando estou dormindo, quase tudo o que eu escrevo provém de sonhos que tive de madrugada.
2-Por quanto tempo fica?
R= Ah... Queria eu poder estipular esse tempo. Uma semana? Um dia? Uma hora? Um ano? Um mês? Ninguém pode definir no geral, apenas com sua observação pessoal. Devemos ter em mente que a inspiração vai embora do mesmo modo que chegou então raramente você pode afirmar que estava "dando indícios de que sofreria um bloqueio pós-inspiração". Em mim a inspiração dura cerca de duas semanas. Isso se eu administrá-la bem, caso contrário ela se vai em cinco dias.
3-O que quer de nós?
R= Essa é a questão mais complicada. Se a Senhora Inspiração for uma espécie de deusa mitológica ou força suprema vagando pelo universo, creio eu que ela quer apenas sugar o nosso melhor, nos fazer sofrer sem dormir por noites enquanto escrevemos no calor da emoção e depois nos abandonar num estado de calamidade. Já notaram que, logo após o longo momento criativo, vem aquela lufada de bloqueio? Parece que tudo de bom que podia sair de nós se foi junto com a inspiração e não conseguimos mais produzir nada por semanas e até meses.
A inspiração devasta. Ela nos trás boas ideias, gás extra para começar e desenvolver histórias brilhantes, mas é uma sacana por nos deixar desamparados quando mais precisamos.
Então, você pode se perguntar: Ora, Bia, então quase tudo da inspiração é ruim?
A resposta é: obviamente não.
Agora vamos voltar para a postagem anterior onde falei sobre planejamento. Administrar a inspiração dosando-a com o planejamento é a chave do sucesso para qualquer escritor, até para aquele que acredita quase nada em sua capacidade.
Ninguém quer depender de algo passageiro, ninguém quer começar um relacionamento já sabendo que o fim é inevitável, ninguém quer casar já prevendo o divórcio. Sendo mais radical: ninguém planeja uma gravidez pensando em aborto.
Inspiração e planejamento devem andar juntinhos para assim proporcionarem ao escritor o conforto de escrever com segurança. Posso dizer hoje que minha dependência da inspiração para escrever está entre 30 e 25% e é um número consideravelmente baixo levando em conta as dificuldades de se iniciar, manter e terminar um livro.
Mas, como vocês percebem, eu enrolo demais. Vou explicar como fazer o benefício da inspiração ser mais duradouro, relacionar com o planejamento e evitar bloqueios futuros.
A primeira coisa que você deve fazer ao sentir que foi tocado pela inspiração: a) começar a escrever sua história com empolgação? b) armazenar todas as ideias na cabeça? c) ignorar os bons ventos? Nenhuma das alternativas. Começar a escrever tudo o que você está pensando - e que são dezenas de ideias uma atrás da outra - vai te fazer se empolgar demais e perder detalhes essenciais para poder alcançar determinada parte da narração que você almeja. Ei, pequena formiguinha, vá com calma, são ideias boas demais para serem desperdiçadas por precipitação.
Também não confie na sua memória, ela pode te trair e te fazer esquecer pontos bem legais que a inspiração te fez criar. E jamais, em nenhuma hipótese, ignore a chegada dela. Por mais que você esteja ocupado, não deixe passar uma oportunidade de livro novo. Pode ser que não queira escrever no momento, mas pode sentir falta da ideia chave mais tarde e a ter esquecido.
O que se deve fazer é anotar. Isso mesmo, tomar nota. Planejar, colocar no papel tudo o que está na cabeça sem se importar em estar rabiscando tudo e invertendo ordens. Meus cadernos de planejamentos parecem livros de caligrafia de uma criança no começo da alfabetização.
Segunda coisa: certifique-se de que realmente colocou tudo no papel, de que o planejamento, por mais que desorganizado no começo, foi feito. Só assim você pode começar. Começar a escrever? Não. Mas essa é uma opinião minha, cada um age conforme acha melhor.
Eu acho que, quando você começa a escrever no calor da empolgação vai querer fazer tudo de uma vez e acabar deixando a obra um tanto descuidada e apressada. O que eu faço: escrevo o primeiro capítulo e umas sinopses. Envio essas sinopses para meus amigos e pergunto o que esperam de um livro assim e se leriam. Feito isso e escrito o primeiro capítulo, deixo descançar por uns dias e espero a inspiração afoita me deixar. Quando isso acontecer, releio meu planejamento, organizo de uma maneira mais bonitinha e penso se estou com disponibilidade para começar a escrever ou espero mais um pouco.
Eu faço isso quase sempre, só parto para a escrita de fato se não tiver nenhuma atividade próxima relacionado a escola ou outras coisas.
Você pode até achar que deixar a inspiração passar pode ser um desperdício, mas, se acontecer com você o mesmo que comigo, quando terminar as suas várias páginas de anotações e planejamento,  vai sentir que suas forças foram sugadas e o melhor mesmo é esperar.
Quanto mais detalhado seu planejamento for, mais técnica sua escrita será e os imprevistos te alcançarão cada vez menos e com menor abalo. E os períodos de "não sei mais como escrever" se tornarão bem mais escassos até o ponto em que escrever a qualquer momento será natural e não terá tantos impactos negativos.
Por hoje é isso, formiguinhas, não sei se consegui esclarecer muita coisa porque eu sempre me perco em diversos assuntos quando escrevo, mas estou disponível para qualquer dúvida. Na próxima publicação falarei sobre o efeito da música na hora de escrever, afinal, ela ajuda ou acaba se tornando um empecilho?
Até a próxima semana (que já começa amanhã) e deixem um comentário sobre o assunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário