domingo, 23 de outubro de 2016

Conflito de escritora: minha vida e minha escrita

O intervalo entre a primeira e a última vez que eu me preparei, peguei a caneta ou encarei as teclas do teclado para escrever, foi quando muitas coisas mudaram na minha vida.
Nesse tempo eu amadureci muito. Tanto como ser vivente como escritora. Queria muito dizer que hoje estou extremamente satisfeita, mas ambas as áreas de mim que destaquei ainda estão muito frágeis. Não posso negar que quero ser uma pessoa melhor. Não posso negar que em grande parte do dia eu me sinto apenas uma sobra do meu passado, apenas uma coisa pequena de pouco significado no mundo. Mas eu sou ótima em disfarçar.
Eu me julgo uma menina muito bonita, fofa e adorável. Não tenho e nunca tive problemas com estética, nunca me olhei no espelho e me achei feia. Eu sou bonita, eu me encaixo em todos os meus padrões físicos de beleza, mas isso não é o suficiente. Não me basta.
Do que adianta ter um rostinho bonito se meu coração se encontra sufocado e meu psicológico totalmente desprovido de qualquer beleza? A Bia que eu já fui, a Bia que sou... Nunca alcançarei a Bia que esperam que eu seja e a que eu quero ser.
Padrões. Eu os chuto. Rótulos. Eu os derrubo. Regras. Eu as ignoros. Minha consciência. Eu me curvo e obedeço. Mas em vão. Não há resultados positivos. Eu sou um exemplo de criatura errada. Em meio as minhas qualidades, somente eu as destaco como importante. Mais ninguém. Mas eu não ligo para o que vão achar de mim, mas dá um aperto no meu coração quando eu mesma fico me lembrando que nunca vou alcançar o nível de estabilidade mental para ter uma vida feliz e tranquila.
Eu sou uma constante perturbação. Os níveis de perfeição como ser vivo para se alcançar são um alvo extremamente distante que eu precisaria de muitas mais vidas para pelo menos tentar acertar.
E, como não consigo ser um ser vivo razoável, tento dar o meu melhor escrevendo. Escrever me dá um sentimento que não consigo expressar com palavras. Não me sinto perfeita, não me sinto a melhor, por mais que muitas vezes eu diga que sou, na verdade eu enxergo muita capacidade em mim, mas também enxergo fracasso.
Eu escrevo. Eu aprendi muito escrevendo, mas parece que não alcancei o que quero. Meu livro, meu último escrito, minhas fanfics, meus textos. É como se nunca pudesse agradar a todos e sei que não vou.
Há pessoas que me leem. Há pessoas que me elogiam, mas também há críticas. Sou humilde e as aceito, mas tem algumas que ainda não me preparei para receber. Eu tenho medo de me mostrar para o mundo. Se pudesse esconderia tudo o que já escrevi em um baú bem secreto e distante de qualquer um que saiba ler.
Eu quero ser lembrada no futuro como um nome importante na literatura, mas o que estou conseguindo hoje?
Claro que não posso jogar fora, dar descarga em todo meu progresso nesses últimos cinco anos, mas eu queria estar melhor. Ainda me sinto limitada quando escrevo, ainda há conflitos, palavras ainda faltam.
Eu estudo, eu leio, eu treino. Treino. Escrevo. Treino. Mas o resultado muitas vezes sai insuficiente.
Se tratando de tudo o que escrevo, eu sou a que mais me exijo. Eu só queria mostrar para o mundo a minha capacidade de expressão através da literatura, mas eu não consigo.
Está tudo ligado: mente, estado de espírito, psicológico, corpo, habilidades, talentos, desempenho...
E tudo se reflete em mim nesse momento. Minha mente está cansada, está sobrecarregada e quase não mais suportando se manter ligada; meu estado de espírito é crítico, sem comentários; meu psicológico foi altamente destruído há alguns anos e nunca mais se regenerou, meu corpo sofre sequelas, frequentemente ando doente e com resistência muito baixa, tenho medo até de morrer por causa disso. Meus talentos e habilidades são meus, mas o que eu faço deles? O que eu estou conseguindo fazer? Qual a diferença no lugar onde vivo? Qual a diferença em mim mesma?
É como se eu escrevesse,  escrevesse, escrevesse, mas nunca conseguisse.
Não importa quantas vezes eu revise um capítulo, sempre passarão erros. Não importe o quanto eu leia, sempre terá uma parte fraca em meio ao enredo. Não importa o quanto eu estude gramática, nunca vou aprender tudo.
Eu sempre vou errar e aceito isso. Mas eu queria deixar meus leitores estupefatos, eu queria alcançar o alto pico de satisfação pessoal com meus livros, eu quero elogios com conteúdo e não gratificações vazias. Eu quero que me reconheçam pelo meu eu que apenas eu conheço. Eu não quero ser apenas o que veem.
Eu sei que quero algo impossível. Eu nunca vou ser a pessoa que quero ser, eu nunca vou ser a escritora que impressiona a todos. Frequentemente errarei. Frequentemente irei tropeçar nos meus próprios erros, chorar, pedir ajuda e ser ignorada. Mas eu levantarei e continuarei como se nada tivesse acontecido.
Talvez eu devesse não cobrar tanto de mim, talvez eu devesse aceitar todo tipo de elogio e não ficar selecionando.
Mas eu não sei mais o que é prudente buscar nesse mundo. Eu não sei mais o que vale a pena.
Viver de escrever, escrever para viver, tentar viver e escrever ao mesmo tempo. Tentar ser o que nunca serei ou me contentar com o que sou.
Eu não sei o que é pior, tendo em mente que nenhuma solução me parece viável em nenhum momento da vida.
Com certeza o espermatozoide que me formou não sabia o que estava fazendo na hora da fecundação e me formou em vida sem querer querendo. Talvez eu seja o erro de uma célula ou apenas mais uma em meio a tantos erros que temos nesse mundo.

Ps: a imagem tem direitos autorais.

2 comentários:

  1. Como nasceu sem querer, sendo que o que mais quer é escrever e querer também, acho que escrevendo isso já está realizando o que mais quer.
    O seu apogeu está por vir tenha calma.
    Ignore meu comentário de péssima qualidade. Demorei um ano para conseguir postar.

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    1. Agradeço o comentário na postagem. Infelizmente tenho muitos conflitos pessoais que me deixam atordoada e escrever acaba ao mesmo tempo me encaixando e me retirando dessa vida.
      Espero alcançar algo que, confesso, não faço muita ideia e que seja bom.
      Tenha uma boa tarde.

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